ATTITUDE CHANGE

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Vivemos tempos de mudança. Alguns acreditam que estamos em crise, mas não. Os ciclos tecnológicos, económicos e sociais são cada vez mais curtos. E esta MUDANÇA contínua, potenciada pela globalização, deixou-nos expostos a um novo paradigma onde por vezes os jogos são de soma nula. Onde ganham uns, perdem outros. Claro que todos querem prosperidade e uma vida digna. Todos, sem excepção, têm direito à establidade sem a qual será difícil ser feliz. Mas há cuidados a ter, que a evolução não seja feita à custa dos outros.

A concorrência deve ser leal; os factores de produção (matéria prima, trabalho, capital) devem potenciar uma sociedade equilibrada. Tem-se como verdade (no qual o livro Valuation da Mckinsey é referência) que o accionista (shareholder) é o único que pode garantir os interesses de todos envolvidos (stakeholders), uma vez que perseguindo o lucro ele visa o aumento de valor da empresa e, assim, o sucesso desta e de todos que gravitam à volta dela; clientes, empregados, fornecedores e Estado. A verdade não é assim!

A deslocalização dos factores de produção fez com que os empresários procurassem estar mais próximos das matérias primas, do trabalho mais eficiente (aqui falo do custo e não da qualidade, isso seria eficácia) e do capital mais fácil (expondo-se a riscos que só agora percebemos). Este processo foi feito com muita ganância e sem a devida transparência. Mas este é um problema ideológico que tem de ser resolvido, pois a sociedade precisa de novos modelos de desenvolvimento uma vez que os conhecidos foram falindo ao longo dos tempos.

Não é justa a sociedade que promove a desigualdade, mais ainda quando esta se perpetua por herança de geração em geração. Não se pode incentivar a riqueza sem cidadania, sem consciência social. Mas também não se podem punir os criativos, aqueles que assumem risco para criar riqueza. Então qual será o modelo ideal?

Essa é a resposta que vale vários tetraliões de euros (agora que os dólares valem pouco)! Este será um tema recorrente para mim, virei a ele mais vezes para falar de soluções e serei certamente polémico como qualquer ignorante o seria.

Para já deixo uma atitude que pode parecer demagógica, pouco eficaz, mas que vou ter em conta sempre que fizer compras. Há quatro anos foi lançado o movimento 560. A questão tem a ver com o proteccionismo, mas sem que este seja promovido pelo Estado ou pelos empresários, mas sim pelos consumidores. Quem nos pode criticar? Comprem o que é feito cá, seja de marca portuguesa ou internacional. Boas compras!





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Diálogos Impossíveis

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A cidade de Qalqiliya na Cisjordânia encontra-se isolada do exterior por um muro de 8 metros de altura. Rivaliza em dimensão com a muralha da China e em intenção com o muro de Berlim. O único ponto de passagem é tão estreito que os carros da cidade jamais poderão sair. Os burros, outrora em extinção, servem agora como meio de transporte. Mais do que povos o muro separa crenças, e não há nada como a fé para acirrar ódios. Não se questionam as verdades da alma nem as formas de as impor. Há muito que a lógica não tem aqui assento.

Ali Jaafar nasceu em Nablus há 22 primaveras. Nunca soube o que seria um dia em descanso, sem mais aborrecimentos do que as trivialidades da vida. Há mais de seis meses que não trabalha. Maldita hora aquela em que optou por ser camionista, pensou.

Aki Kaurismäki tem ascendência polaca. Os seus avós viveram em Varsóvia; bastava-lhe a memória de uma diáspora forçada para não acreditar na força da tolerância. Há três meses abandonara o doutoramento em San Diego para cumprir com o dever de proteger a Terra Santa. Calhou-lhe em escala estar hoje no check-point.

Via-se agora distintamente na linha do horizonte a silhueta do par, à frente Ali puxava o burro carregado com duas caixas com rações de arroz, azeite e açúcar. Não fosse o apoio da Cruz Vermelha e há muito que estariam sem mantimentos.


- “O que levas ali?” pergunta Aki apontando para as caixas.
Ali olha-o espantado “Como sabe o meu nome?”
- “Responda só ao que lhe pergunto! O que tem nas caixas?”, o tom adivinhava problemas.
- “Aqui só tenho rações” afirma Ali colocando a mão na caixa.
Num gesto brusco Aki encosta a arma ao palestino. “Agora pergunto eu ... de onde me conheces?”
- “Quem, eu? Mas foi você que me tratou pelo nome ainda agora aqui!” desespera Ali.
- “Tornas a trata-me pelo nome e morres, enterro-te a ti e ao teu burro ali na valeta, porco imundo!”
- “Imundo terá sido teu pai que cobriu a tua mãe ó cão infiel! Hás-de morrer aqui!”.
Aki e Ali envolvem-se numa luta corpo a corpo. A preparação do militar leva a melhor. Ali encontra-se agora prostrado sob o pé ameaçador de Aki.
- “Pergunto-te pela última vez, o que tens nas caixas?” indaga Aki enquanto agarra a corda que pende do burro.
- “Passamos fome, o que querias que fosse? A justiça?” cospe Ali com algum pó que engolira.
- “Veremos se falas verdade!” e num gesto brusco puxa a corda do burro.
A explosão ouviu-se do outro lado da cidade. Um ancião da Fatah que dormitava na sombra de um coberto abre os olhos e, sem perder a calma, proferiu “Está-se melhor aqui do que ali!”.



E o homem criou o Mundo e a sua história...


Apesar da estória, não persigo os judeus. Bem pelo contrário! Esta guerra é como o futebol. Interessa que nos vá dando episódios para nos distrair do essencial...


Nota: há pessoas que me desejam o bom dia, outras que me pedem votos... será que alguém me lê? Estou com saudades de ler comentários inteligentes, daqueles que me fazem escrever! O desabafo é do ignorante, a ingenuidade é do aprendiz... Vou parar até me sentir satisfeito! Hahaha!

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Salto de anjo

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Vivi uma vida de excessos. Tantos, mas tantos, que mesmo as mulheres me cansam, nada me surpreende, só a genialidade de outro me fará despertar do desinteresse por tudo, pelo vulgar, pela alegria de iguais. Recordo o tempo em que passar a mão pela areia, senti-la, era prazer para o resto do dia. Revivo os dias em que os meus olhos se perderam no azul-turquesa de águas escondidas nos confins dos mares, distantes, mas sempre presentes. Lembranças que me ficaram e das quais nada sobra, nem espaço para compreender ou amar, estou cheio do passado, cheio, e com desinteresse tal que nem o grito da vida me acordará. Olho para baixo e nada vejo. Será? Talvez? Salto em frente como se o corpo ficasse para trás, só a alma me acompanha. A queda é violenta, primeiro o nada e depois o vento que me escolta num sibilar em crescendo. Sinto-me a desfalecer embriagado em mais um excesso, loucura que procuro quando a vida já não me basta. Sinto a pancada, de pronto, a avisar-me que serei atirado para cima com violência; agora sei que tudo está bem, fosse eu sempre pássaro e não precisava desta máscara, deste esforço, deste embuste. Experimento no arnês a imponderabilidade a transformar-se em gravidade; o trapézio cumpre o seu papel e a minha coluna sente as vibrações da asa que compenso com movimentos ora bruscos, ora suaves. A retranca nas mãos é leme certeiro... woooou!!!!... e subo agora na térmica para voo mais alto! Ao longe, lá na praia, um menino grita em espanto... “mamã, mamã, um anjo a voar!”.





Tirei há alguns anos o brevet de Asa Delta no Aero Club de Portugal. Comecei por voar na praia do Baleal, em Peniche, onde no "bacalhau", nome que dávamos à asa de instrução pelas suas dimensões, senti pela primeira vez a vertigem inebriante de voar. Foi na praia dos Salgados que fiz o meu primeiro voo "à séria"! Mas isto, isto nunca tinha visto. Voo livre na Noruega a rasar Fiordes! Complete madness!



Elas também saltam! Vencem o desfiladeiro a uma velocidade doentia! :D

Enlatados

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Bastam uns míseros dias para que Paulo Bento se esqueça do 12-1 da Champions e se concentre num erro da Taça de Lata. É preciso ter lata, de facto. Não sei como é que o responsável da maior derrota de que há memória na Champions League (há que dizê-lo com tranquilidade) continua a treinar o Sporting. Se tivesse vergonha na cara, e não risco ao meio, tinha-se demitido! Ele está cansado, diz, e eu que nem sou do Sporting também... vê-lo na televisão aborrece-me, parece que estou na unidade de cuidados intensivos a ouvir alguém acabado de sair do coma! Desliguem a máquina, eu já desliguei a televisão....



O post é caústico, mas a situação é ácida! Não haverá mais vida para além das disputas da 2ª circular?

Street Art

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There are moments in life where we should cutoff words, descriptions aren't meaningful, contemplation is everything. I don't care about consensus; I'm writing in English to emphasize Art is an universal language. Feel it! I know, we can't use words to express ourselves when we are surprised by supreme difference.
Enjoy!



I have good lungs... fortunately! :D


P.S. Forgive me for my Zimbabwe accent! Lack of proficiency. I accept revisions...

Posso contar-vos um segredo?

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O Segredo, livro de auto-ajuda, pertence a um género que detesto, pois acredito que a maioria dos autores deste tipo de literatura explora a desgraça alheia da pior forma, vendendo o milagre fácil, o sucesso e a felicidade em fórmulas tão simples que só alguém isolado da realidade pela depressão ou desespero as poderia comprar.

Em resumo, o livro anuncia: deseje, pense, tenha! Como se tudo na vida fosse possível, como se tudo estivesse ao nosso alcance. Contudo, acredito que nada se obtém sem se tentar e o que vale a pena obriga a luta. Assim, reformulo o enunciado para algo mais tangível, embora menos apelativo: deseje, pense, tente!

Contudo, não vale a pena estar sempre a tentar se não houver resultados. Um dos segredos da vida é desistir, sobretudo desistir de quem de nós desiste. Essa é uma lição da vida, de todos, sem excepção, mas que em alguns casos é esquecida pela repetição.

É caso para se dizer: alguém tem uma parede para se bater com a cabeça? Ok, ok, a solução pode não ser expedita, mas substitui a dor de cabeça, ou não?


Angústia: descobre o erro na foto!

Segredo: quando quiseres bater com a cabeça na parede, não uses a tua!


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Milagre

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O Papa está muito à frente do seu tempo. A medicina não o consegue acompanhar...



Peças de museu agora que a cura foi revelada....


Pergunto eu, os médicos de família e os farmacêuticos podem ser objectores de consciência ou serão excomungados? O Papa tem de fazer abstinência... e que tenho eu a ver com isso?



Para muitos o processo de cura começa aqui...


Será que ninguém viu este vídeo genial? GENIAL! Eu parti-me a rir, e vocês? Só mesmo os "bifes" para fazerem um vídeo destes sem complexos. Cá... levavam isto a sério. Comentem!


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Fontana di Trevi

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Lanço a moeda de costas e sinto-a a embater na água. Afunda-se num movimento em espiral que só termina ao encontrar o fundo irregular da fonte. Agora, como num gesto estudado, deita-se devagar iludindo na água a gravidade e outras leis.
As moedas que aí repousam são a prova do sonho de muitos. A minha seria mais uma e, como as outras, cumpria a tradição. Em Roma sê romano; o meu desejo ficou registado.
Havia de regressar!


La Dolce Vita!

Maria Cucinotta; luz, sombras e muito calor ... chamem o Roberto Benigni para a imortalizar!


TU


Querias tu que fosse teu,
só assim,
tão fácil como um desejo;
querias tu que te adorasse,
tão só,
fosses tu deusa e eu criatura;
querias tudo
na vida que olhaste
que era de outro que não eu;
quisesses tu
ser somente tu,
saberes olhar-te para dentro
onde escondes o que és,
sendo tu
e não outra qualquer.





Há mulheres belas, mas prefiro as do além! É tudo uma questão de atitude...

Trilogia

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Não seriam mais de três, ele e mais dois, mas qual deles, não sei, o primeiro era gentil, quase serviçal e nunca se impunha aos outros dois, o segundo era arrogante, de um convencimento insuportável, tanto, mas tanto, que só se calava na presença do terceiro, o manipulador, dono das palavras e da razão, mesmo que aparente, condicionava o par que o seguia, poder que nunca rejeitou, usava-o sem displicência, os outros, esses, aceitavam a liderança sem conflito, tinham o seu espaço e isso bastava-lhes, não fosse ela e nada haveria a contar, o primeiro adorava-a, não tanto pela beleza mas pela candura, o deleite era total, o segundo encontrara uma ouvinte, coisa rara, e não desperdiçava nenhuma oportunidade para se elogiar, nem o olhar inquiridor dela lhe perturbava o monólogo, o terceiro conhecia bem o engodo, na mão alva e esguia ela escondia o cárcere mas continha-se, gostava de os ouvir, e se no primeiro não encontrava móbil maior do que a inocência, bastava-lhe escutar o segundo para reconhecer o mal insondável, verdade sempre interrompida pelo terceiro para que na razão não se perdessem os três, e nisto passavam os dias, ela sem saber a quem atender, eles à procura da liberdade, e tudo escurecia quando ela da mão desvendava o algoz, não seriam mais de duas pastilhas para mastigar, só, preparo seguro para a viagem ao inconsciente, vertigem, e se dos três nenhum será, não sei, nem eles, nem ela, o que ficava nunca se revelou, a medicação deixava-o prostrado numa letargia só desfeita por abstinência ou placebo, necessidade de mais ciência, a dela, pois eles eram só cobaias...


A loucura não é propriedade individual, a história encarregou-se de a transformar num legado da humanidade!


Nota: Este não é um tema fácil nem o texto é simples; socorri-me da pontuação mínima para dar "vertigem" à escrita. Pretendi divagar sobre a esquizofrenia, doença que conheci num amigo que já nos deixou por não saber lidar com a mesma. O não tomar um simples comprimido por dia decidiu-lhe a sorte. E era um ser genial, doente, mas genial.
Gostava de ver os vossos comentários; deu-me gozo escrevê-lo, dá-me muito mais gozo perceber-vos e aprender! Prerrogativa de ignorante.
Psicólogos, psiquiatras, médicos em geral, advogados, padres, professores, engenheiros e outros ignorantes... pronunciai-vos, qualquer que seja a vossa pronúncia...

Flutuar

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Está tempo de Verão de dia e de noite, alguém ficou em casa? É só terminar este post, mas é que é mesmo só acabá-lo e vou dormir para a praia! Ok, ok... se a água estiver suportável à superfície dispenso os mergulhos ao "deep blue" e durmo no mar! Espero roncar o suficiente para afastar veículos aquáticos, gajas com toucas às flores, atrevidos que procurem refúgio para outras necessidades e nadadores salvadores a tentar ganhar o deles! Se me virem... não me acordem! Espero que a corrente esteja de feição... quanto tempo demorarei até às Caraíbas??



No caminho vou ouvir esta e outras que me lembrem sol, festa e alegria!

eXXXpressões

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(Atenção! Português vernáculo, impróprio para mentes sensíveis...)

Não paro de me surpreender com a versatilidade da língua portuguesa, sobretudo quando usada por brasileiros. Esqueçam, nunca conseguiremos batê-los nas expressões idiomáticas. Há beleza e força nas expressões como "Porra nenhuma!" para a denúncia, "nem fodendo!" para a negação, "vai tomar no cu!" para o insulto. Por contraponto nós temos uma das piores; "caralhos me fodam!" que é dita sem consciência do conteúdo, somente superada pelo "you're a pain in the ass!" onde se indentifica o sujeito... No geral preferimos o calão porra, merda, azeiteiro, badalhoca e outros tantos vocábulos que servem de sinónimos de qualquer palavra e que chegam a substituir frases inteiras. Um simples "foda-se!" pode querer só dizer "caramba!", mas um "fooooooda-se!" já pode querer dizer "aquele gajo mandou uma pastilha de moto a 200 à hora e conseguiu levantar-se sem um arranhão! Teria sido trágico pois tem mulher e três filhos. Que sorte!". Esta economia na linguagem ainda não foi conseguida no trabalho, mas é um bom mote para o aumento de produtividade. Imaginem um telefonema com um dos interlocutores a economizar; "está... merda... foda-se... ide todos pró caralho!"; não só mostrou sem hesitação ou margem para dúvidas o que pensava sobre o assunto como, ainda, tomou decisões. Será possível pedir mais?
Deixo aqui uma música essencial para quando quiserem mostrar desencanto com os políticos, contestar a falta de incentivos à vossa empresa, manifestar a dificuldade de progressão na carreira, informar o engano com a cara metade, demonstrar a perplexidade com uma atitude, preço, etc.



Melhor do que um livro de auto-ajuda... hahaha!


P.S. É desta que perco a audiência toda! :D

Nota: O vídeo teve quase 14 milhões de visualizações...

Sexta-feira dia 13

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Há coisas fantásticas! Pessoas que perseguem outros por IP ao longo da net, que confundem histórias passadas com recentes, que fazem sua as causas de outros e procuram vítimas, enfim, as novas tecnologias prestam-se a tudo, até à estupidez. Ainda bem que assim é, pelo menos confirma-se que a desconfiança é por si só uma doença. A net é o melhor meio de diagnóstico, a esquizofrenia e a doença bipolar deixam rasto, mas não tratamento. A crise também assola a net, falo da camada emergente da sociedade que valoriza o virtual em detrimento do real. Há gente muito só! Deve ser do dia, mas faz sol, e que sol, há que aproveitá-lo!



Onde está o Wally... ou será o Freddy Krueger?


P.S. O post retrata uma história de terror ficcionada, digna da data de hoje!

Roland

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Tenho um piano digital em casa. Comprei-o por impulso; alguns anos mal estudados no conservatório e a vontade tremenda de tocar ajudaram à loucura.
Fui à net e li tudo o que me foi dado a ver sobre pianos digitais. Após longa triagem cheguei ao Roland RD-700. Oitenta e oito teclas com contrapesos para permitir a mesma pressão e retorno de uma tecla de piano. Centenas de instrumentos e acompanhamentos, divisão do teclado em dois permitindo dois instrumentos em simultâneo, ritmos estonteantes, capacidade de expansão com novos instrumentos e entrada e saída Midi. Estava conquistado embora me tivesse entusiasmado com os Yamaha e os Korg.
Às vezes olho para ele, provoca-me, como se me perguntasse o que está a fazer aqui. Tenho tocado pouco, um facto, mas não lhe vou dar descanço. Apetece-me! Os vizinhos não se podem queixar, tenho auscultadores...



A única semelhança é o piano...

Diatribes

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Esta semana foi pródiga em futebol. Senão, vejamos... Pinto da Costa foi acusado de ter estado em casa da irmã da Carolina Salgado e de lhe ter pago 500 euros para prestar falsas declarações. Pelo currículo de Carolina é evidente que a irmã não podia declarar no IRS o que cobrava em casa ao ex-cunhado, mas tratando-se de gémeas até se compreende... este despautério desconcentrou os jogadores do Sporting que, como sabemos, têm uma grande devoção pelo presidente do Porto, em particular Postiga e Derlei. O Sporting perdeu por 0-5 em casa e por 7-1 em Munique. Gosto do altruísmo de só se marcar um golo na casa do adversário; há que jogar com tranquilidade... como a que se vive hoje em Angola. Vendo a oportunidade, o ex-presidente do Benfica Vale e Azevedo recebeu um milhão de euros do presidente da Unita... mas não os devolveu, pensava que era gasosa... razão bastante para a vinda a Portugal de Eduardo dos Santos, apreciador de bebidas gaseficadas e de outros luxos, a quem Cavaco garantiu que o Mantorras iria participar no Rally de Portugal...




(1) Foto: o "fotobolista" não se vê, mas está lá...

(2) Gasosa em Angola representa a comissão pessoal que se paga adicionalmente ao serviço prestado...

(3) No futebol tenho dois amores; Académica no coração e Porto na razão, mas juro que não conheço a Carolina... nem a do Mónaco!





P.S. Este post está muito cáustico! Deitem-lhe água, mas não batam muito no ceguinho! :D




Radical por radical...



Verdadeiramente radical...



Impossível de repetir...

Ineptos

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Um homem independente tem, por isso mesmo, bastantes limitações. Basta termos casa própria para nos sentirmos perdidos. Ensinaram-nos que a lida doméstica seria tarefa de outras, que não nos teríamos de preocupar com essas chatices quotidianas. Depois crescemos e sentimos a realidade dura e crua. Regressar à casa da mamã estava fora de questão, restava o recurso ao outsourcing... a empregada doméstica, essa incompetente bem paga que mal vemos e que nos guarda as jóias a contra gosto. Nem tudo é mau, ganhamos qualidades de gestão: contratação de serviços, planeamento de tarefas, gestão de stocks, controlo de tempos e qualidade, e gestão de tesouraria. E pagamos para quê? Meias que nunca conheceram os seus pares, pó que teima em conquistar todos os cantos da casa, roupa que tomba da despensa sempre que se abre a porta, frigorífico delapidado das suas melhores iguarias e, não raras as vezes, um extracto telefónico com números a quem nunca conhecemos a cara. E como comunicamos? Evita-se o contacto directo, dele resulta geralmente indisposição e necessidade de novo recrutamento. Uma folha escrita com caligrafia visigótica na banca da cozinha confirma as horas despendidas e relembra necessidades mais espartanas. Ainda hoje me surpreendo nos supermercados; a diversidade de produtos e funcionalidades é apetitosa; depois de ler as qualidades de um detergente tive impulso para o provar! Fiquei pelo desejo, hoje opto pelas cores e assim garanto a harmonia da estética do lar. A Zulmira, nome da última reumática que se arrasta pela casa, queixa-se que estraga as mãos, que eu devia comprar amaciador; calculo que seja por isso que as minhas camisas preferem os cuidados da "Cinc a Sec"... manias! Regresso agora a casa; sei que ao abrir o correio encontrarei avisos que me notificarão que ninguém esteve em casa para os recepcionar e, eventualmente, algo que terei de levantar urgentemente. Ah! Zulmiras deste mundo, o que seria de nós sem os vossos préstimos?



Espero que a esteja a desfazer...

Grito

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Música para acompanhar o texto. Outros tempos, o mesmo grito...


Estava de saída. Cumprimentei o porteiro como sempre faço. Ele lembrou-me que o carteiro já passara e que tinha correio fresco, que não o esquecesse. Adoro esta deligência, considero-a um pequeno privilégio de um homem adorável. Trabalha no prédio há 30 anos, desde que ele existe, mantém a discrição e gentileza própria de um bomem humilde e bom.
Abri a pequena caixa, uma só carta sem remetente, selo ou algo que a distinguisse de um mero envelope. O porteiro assegurou-me que tinha sido o carteiro a deixá-la. "Estranho, muito estranho", pensei. No interior da carta encontrei um convite. "Lello & Irmão tem o prazer de o convidar para a apresentação de Grito, um livro de um seu conhecido que pretende reservar anonimato mas que faz questão da sua presença". A data de apresentação era a de hoje pelas 21h. O papel era timbrado, escrito à mão e tinha uma assinatura ilegível mas de traço elegante. "De quem será o livro, como vou de Lisboa ao Porto num dia de trabalho? Conduzo durante o jantar? Valerá o desafio?", estas e outras perguntas assaltavam-me o espírito.
Na carta havia um número de telemóvel para o qual telefonei e de onde recebi a confirmação do evento; há anos que a Lello não fazia uma vernissage como a de hoje, o convite era irrecusável. Acabei por aceitar o repto.
Não seriam seis da tarde e fiz-me à estrada. Chegaria antes das nove e aproveitaria uma estação de serviço para comer algo. Assim o fiz. Durante a viagem recebo um SMS. Sem a segurança devida resolvo consultá-lo em condução, bastou-me para isso reduzir a velocidade que ia muito acima do limite permitido por lei. "Ao chegares pergunta por Decus in Labore". O meu latim é péssimo, "O trabalho honra", tradução livre e não isenta de erro. Se tinha curiosidade agora temia a burla, o gozo de alguém.
Eu estudei no Porto por opção. Quis conhecer a capital do norte, perceber as suas gentes, ficar com uma abrangência diferente deste Portugal. Tive essa sorte. Do arrojo ficaram-me amigos e memórias. Circular no Porto dispensava o uso de GPS, pelo menos para os locais familiares, aqueles que frequentei como este que agora me chamava.
É impossível não sorrir quando se olha a fachada da livraria. Sempre achei que o Porto e Gaia têm melhores exemplares de Arte Nova do que Lisboa. O norte é mais exuberante do que o sul; as hipérboles na linguagem são a prova viva de um povo extrovertido, com o coração na boca, é o que temos de mais parecido com as gentes brasileiras mas sem os excessos na relação (1).
Entrei neste espaço quente, de madeira torneada, com escadas labirínticas vermelhas a evocar aventuras fantásticas dispersas nas estantes dos dois pisos. Imaginei J. K. Rowling, que ensinou e foi mãe no Porto, a conceber neste cenário os primeiros traços do mundo mágico de Harry Potter.
Dirigi-me ao balcão, mesmo ali à entrada do lado direito. Tudo parecia normal, clientes a entrar e a sair, outros a vaguear absortos em pesquisas cuidadas que faziam aqui e ali, mas nada, mesmo nada que indiciasse festa. Mostrei timidamente o convite. O espanto maior veio do funcionário que ainda tentou confirmar com uma colega se estaria errado. Mas não, nem o livro conhecia. Atrevi-me a perguntar o que era Decus in Labore. O rosto dele iluminou-se, seria útil e o cliente não teria vindo em vão. "É a nossa divisa, se subir ao primeiro andar poderá ver o nosso monograma com a divisa no vitral do tecto!", disse entusiasmado.
Subi as escadas, dois lances que desafiam a física pois criam perspectivas impossíveis. No primeiro piso olhei o tecto. Tudo se confirmava. Mas porque estava eu ali?
Alguém se aproximou de mim. Não teria mais de 20 anos. Sem dizer palavra deu-me para as mãos um pequeno livro e, de pronto, desceu as escadas. Cheirava a myosotis, há cheiros que não se esquecem. Nunca mais a vi.
Abri o livro. Páginas e mais páginas em branco. Folheei-o novamente. Nada! A frustração era grande e quando me preparava para fechá-lo caiu no chão uma pequena folha que me escapara na análise. A letra era a mesma do convite. "Não é um livro em branco. Tem um grito preso nas páginas que aqui estão, está encurralado e só tu o podes libertar!". Pensei na divisa, "Decus in Labore". O meu editor tem estranhas formas para me confrontar com a minha produtividade, mas teria tema, definitivamente! O grito era dele, o trabalho era meu. Hoje seria eu quem pagaria o jantar e já o via a sorrir junto à entrada. Seria fome?



A Myosotis desafiou-me a escrever sobre uma livraria que desconheço. Quando for ao Porto vou visitá-la!


(1) Neste texto menciono o Brasil, mas não de forma depreciativa como se poderia pensar numa primeira leitura. Como disse num comentário à Cris, adoro o Brasil, mas acho que tanta alegria não se reverte sempre em amizades reais. Há de tudo, como cá, mas penso que a minha análise não é exagerada se falarmos em médias.

And now for something completely different

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Não, não vos vou falar dos hoje dos Monty Python, talvez amanhã ou noutro dia, mas vou-vos mostrar um vídeo imperdível, uma lição que escapa à natureza portuguesa, e assim à minha, que devia ser de visionamento obrigatório no liceu, universidade ou em qualquer lugar onde se preparem pessoas para a vida.
Hoje apetece-me falar de algo verdadeiramente útil e que em tempo de crise tem valor acrescentado. TIME MANAGEMENT, i.e. gestão do tempo. Devem estar a rir-se, a pensar que não têm tempo para estudar a gestão do tempo, que tudo isto é blá-blá-blá na senda dos livros de auto-ajuda, um devaneio. Desenganem-se, isto não tem a ver com a auto-estima, tão somente com organização, com um conjunto de regras que nos auxiliam a ter mais tempo para nós. Uma hora e dezasseis minutos de informação que vos podem oferecer muitas horas úteis na vossa vida para serem gastas como quiserem ou, na perspectiva dos economistas, aumentar a vossa curva de utilidade.
Mas quem é o Speaker, e não falo do filme oscarizado, perguntarão? Randolph Frederick Pausch, com o "petit nom" de Randy, mundialmente famoso por ter assumido um cancro terminal e ter feito dos seus dois últimos anos um hino à vida. Já é lendária a sua última aula na universidade Carnegie Mellon, mais tarde alargada e publicada em livro, intitulada Really Achieving Your Childhood Dreams.
E agora divirtam-se, aprendam, tirem notas, aproveitem. É de sabedoria que se trata, embora num registo "cool", e ainda bem!



Dura 1h16... vejam com tempo e sem stress!

The Wrestler

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Ando a dias, como algumas mulheres, num ritmo tão frenético que me esqueço de mim. Enquanto jantava prometi a mim mesmo que iria ao cimena. Regressei ao escritório com a certeza que o bilhete me auferia: The Wrestler/4-3-2009/00:15.
Contei com o tempo das aprentações e cheguei ao cinema uns 10 minutos atrasado, não mais. Não encontrei ninguém para me receber. Passei a barreira de fita vermelha que barrava o corredor de acesso a várias salas e procurei a minha.
Abri a porta e desviei a cortina. A sala estava na escuridão, interrompida somente pelas legendas da apresentação do filme. Esperei por mais luz. Et voilà! Mickey Rourke na tela com o aspecto sebento e gasto que o papel requeria de um lutador de wrestling decadente. Olhei ao redor e não vi vivalma. Nessuno! O cinema seria só meu, desejo que dispensava pois preferia o conforto de algumas sombras e tosses que partilhassem o momento. O filme que tem a dimensão que o personagem lhe dá, nem mais nem menos, tornou-se assim épico. Um espectador cansado numa catedral só sua a presenciar uma tragédia pessoal, banal, onde o orgulho do personagem leva a um desfecho pouco normal para um filme de Hollywood. Entrei só e saí triste. Queria repousar as ideias e ofereceram-me angústias alheias. Fui para casa a pé, benefício que não desprezo, a pensar na vida, no sentido desta, da minha. Este é um egoísmo que guardo para mim.
Se aconselho o filme, claro! Se o voltaria a ver, não. E percebi a razão para ele não ter ganho um óscar; passou mais de metade do filme a ser filmado por trás, literalmente, e o público gosta de ver caras. Até eu... que estava sozinho no cinema sem drops de aniz.



A Guardiã dos Sonhos fez um reparo certo, a banda sonora do filme é soberba. Deixo-vos um cherinho...

Sapatos de Pai

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Cheguei ao Nepal numa viagem com demasiadas escalas para serem contadas. Aproveitei as promoções last minute para evitar sobrecarregar os patrocínios já de si escassos. Preparei-me dois anos para este desafio, certamente o maior por que passarei.
Saí do bimotor e ao sentir o vento frio a acariciar-me a cara não pude deixar de sorrir. Estava ali, conseguira! Só eu sabia os sacrifícios, as dores, o treino intenso que suportara voluntariamente para que o meu físico estivesse à altura do repto que me impusera. Nunca me sentira tão bem, tão cheio de mim.
O nome Anapurna é mágico; mulher feiticeira dificilmente se deixará conquistar. O masculino, Katmandu, oferece um labirinto de ruelas estreitas como se quisesse reter o calor que emana das casas. Todos os meus poros respiravam esta atmosfera mágica; dei por mim a assobiar por nada, estava feliz.
Passaram-se quatro dias na preparação da escalada e na recuperação do jetlag. A caminhada foi pacífica até ao sopé da montanha. A partir daqui as dificuldades iriam surgir, sabia-o.
Estava eu sentado junto a um tanque de água quando um monge budista se aproximou. Retirou um cantil por entre o vestuário laranja e mergulhou-o no tanque. A minha cara de espanto deve tê-lo despertado; olhou-me com um sorriso. “A água é potável” disse-me no melhor inglês de Oxford sem perder o sorriso.
Conversámos bastante. Sou bom fisionomista mas inicialmente não lhe reconheci os traços ocidentais, a cabeça rapada também não ajudara. Este inglês já estava há 15 anos no Nepal e vivia despojado dos confortos mundanos. A sua voz pausada combinava com o cenário, era tudo encantamento. Na despedida perguntou-me, “Porque sobes a montanha?”, e eu, procurando parecer profundo e eloquente, disparei a máxima recorrente, “Porque está aí!”. Ele sorriu novamente e disse-me, “Não, tu sobes a montanha porque a podes subir”. Esta frase iria acompanhar-me em toda a minha escalada. Ao fim do terceiro dia percebi que tinha calçado os sapatos do meu Pai.



No texto anterior tinha prometido falar no tema "Get on Your Boots", promessa cumprida.

Why birds sing?

19 comentários
Porque me apetece, porque há um melómano em mim, porque sim, deixo-vos dois vídeos por razões opostas. O primeiro por ser de um grupo incontornável, global, em que a espera por um novo álbum é sofrimento garantido para os seus seguidores. O segundo por ser uma surpresa que nem a criatividade poderia cogitar, música no anonimato; a qualidade poderá não ser a melhor, mas estará certamente muito acima do que era suposto.
Choque entre dois mundos, mas o mesmo propósito, prazer! Só com sonhos se faz história. Deleite puro, ambos!




Para ouvir bem alto e, de preferência, dançar!




Para ouvir baixo (piano) e, de preferência, pensar!


Curioso, o novo CD dos U2 só vai ser lançado na próxima segunda-feira. O tema Get on your boots é uma novidade, a apresentação foi feita aqui... um dia destes coloco um texto sobre este tema!