ANGOLA 1

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Realizei um sonho; trabalhar entre 3 capitais, todas começadas por "L", todas no mesmo fuso horário embora em meridianos distintos; Lisboa, Londres e Luanda. Cidades opostas, do sofisticado ao improvisado, do declarado ao omisso, do frio ao calor, do sisudo ao alegre, do velho ao novo, do caucasiano ao preto; fantástico, adoro um planeta que me consegue surpreender numa só fatia de uma fruta multicolor onde o palato não encontra sabores iguais.
Sete horas de viagem não me tiraram o sono. Cheguei com uma hora de atraso, às 6:40 num dia que já se espreguiçava entre o cacimbo. O aeroporto está cheio de "Tupóleves" para viagens regionais, pequenas avionetas e helicópeteros particulares ou da polícia.
Fora do aeroporto um amigo esperava-me. Quando me aventurei por entre este novo mundo, aproximou-se um polícia que deu duas ou três palmadas no pescoço de um rapaz que me tentava ajudar com as malas. Estranhei a violência, mas a passividade da vítima era o preço aceite para a ilegalidade. Era um de muitos que lutavam por aquela oportunidade, num acesso atolado de viaturas que faziam adivinhar uma eternidade para chegar a casa.
Os carros são escassos, aqui o jipe é rei e senhor. E não falo de Landrovers preparados para terrenos impossíveis, não, os jipes e suvs são do melhor que podem imaginar e aos milhares, tantos, mas tantos que posso afiançar que nunca vi nada igual. O Hyunday Santa Fé era mais um, nada de especial, só o ronco rouco a cada investida do acelerador me recordava que circulava num seis cilindros a gasolina.
Os meus olhos não paravam. Não é a minha primeira vez em África, mas Angola é uma novidade.
Nas ruas mulheres com vassouras limpam o pó entre os carros que vão passando numa lógica que não consigo explicar. Aliás, a prioridade não tem regra, basta ser destemido e determinado para impor o trajecto a todos os outros. E se pensava que não era possível fazer melhor, alguém me mostrava uma nova faixa que não tinha avistado.
Libertei-me das malas e apressei-me a colocar na mochila o essencial para um fim-de-semana de sonho. Cheguei ao clube náutico pelas nove horas, tempo para embarcar numa viagem de 15 milhas até ao Mussulo. Esperava-me um resort particular de outro amigo, médico, com 6 moradias em madeira que mais parecem casas japonesas pois têm alpendres que as circundam completamente a sombrear paredes em madeira e vidro, onde camas de rede e espreguiçadeiras de verga prometem descanso certo.
Entre as casas e o mar uma piscina de uns bons 20 metros com um desenho em L, tudo isto pavimentado numa areia branca e fina de ampulheta.
Mas foi a viagem que me impressionou, uma lancha que voou sobre um mar chão que permitia algumas brincadeiras de um timoneiro divertidíssimo, tudo entre gritos e gargalhadas de amigos.
(a continuar)



O barco emparelhado entre irmãos no meio do cacimbo.



Vai um mergulho?



Uma voz, aquela que me apetece usar hoje neste mundo novo.