Ilusão

Não escrevo para ninguém, nem para alguém, nem para alma perdida ou encontrada. Não escrevo sequer, rabisco! E se do traço conseguires ler algo eu nego o que dizes, desafio-te para o provares, e da sentença virá a minha indiferença pois nada disse, nada escrevi. Não tens papel para sentires que leves daqui para ali, que leias no descanso de um momento, nada, só a mera ilusão destas letras desgarradas. Nem frases são, muito menos palavras. Não tens nada, de mim nada! Quem sentiu foi enganado, quem encontrou estava perdido, quem sorriu veio cego. Nada, digo-te, nada! Nem para mim desenho o que penso em vocábulos, não os conheço; serei ignóbil, mero iletrado, ilusionista de contos perdidos e achados. Agora sabes que nada tens, nada te dei, nada ficou. E se releres o que disse sentirás a repulsa do logro em que caíste, porque nunca aqui estiveste, não eras tu ou outro sequer. Eras só o nada. E se a ti te nego é em mim que o projecto, porque se não me olhas, se não me lês, se não me tocas, então eu não existo!


11 comentários :: Ilusão

  1. Muito bom...

    :-)

  2. Creepy!!!

  3. me: thanks! :)

    Lurba: Creepy? A intenção não era essa. Este é um texto retirado de um blogue que tive e foi escrito há muito tempo. Mas acho que é um dos meus melhores textos, por várias razões. :)

  4. RAZÃO DE SER

    Escrevo. E pronto.
    Escrevo porque preciso,
    preciso porque estou tonto.
    Ninguém tem nada com isso.
    Escrevo porque amanhece,
    E as estrelas lá no céu
    Lembram letras no papel,
    Quando o poema me anoitece.
    A aranha tece teias.
    O peixe beija e morde o que vê.
    Eu escrevo apenas.
    Tem que ter por quê?

    Paulo Leminski

    E é assim.
    Assinado: Pena

    Anónimo

    6/2/09 22:44

  5. Escrevemos para nós... mas gostamos de ser lidos!

  6. Gosto de viajar!
    Ainda não sei qual será o destino da próxima viagem... mas gostava que fosse uma viagem só de ida para o futuro desejado.
    Queres vir? ;-D

    Beijinhos,
    Hábába

    Anónimo

    7/2/09 20:33

  7. Não consegui, não escrever umas palavras de que NADA valem .

    Grande post , grande rabisco!!

    Ilusão é isso mesmo ... NADA !!!

    NADA... acontece por acaso.

    Mary Mary

    Anónimo

    9/2/09 00:06

  8. Que intensidade colocada em cada palavra!
    Impossível não ler, reler, impossível não pensar!

    bjs

  9. pena: tem! escrever é cometer um crime, suprema heresia. Escrever exige um móbil, o assunto, uma arma (blogues, canetas, papel, whatever...) e pelo menos uma vítima (o escritor), mas com sorte arranjam-se leitores, verdadeiros cordeiros neste mar de ideias em letras, sangue que infecta onde outros vírus e bactérias não chegam...

    mfc: e se assim não fosse nunca mostrávamos o que escrevemos, mesmo que não suportássemos a crítica dos leitores! Para tal, bastava não disponibilizar comentários. Haverá algo mais fascinante do que ter a crítica quase imediata, por vezes cruel, do que escrevemos ou, na verdade, pensamos?

    hábába: nunca programei o futuro; fascina-me desconhecer o final da minha estória, muito menos condicioná-la! ;) Mas adoro viajar para o improvável, onde a palavra desconhecido á a mais apetecida! ;)


    Mary Mary: ainda bem que escreveste, palavras, e com NADA se pode dizer muito. Mas este NADA ainda está por explicar, está somente adiado, NADA que não se esclareça num tempo que tem de acontecer, ou não, neste alma que não se justifica porque não tem corpo que o comprove.


    Guardião dos Sonhos: é sempre bom um elogio. Levas o prémio, uma viagem às letras da terra do nunca, só aí poderás fazer a apologia à epifania que eu preciso.
    bjs

  10. é.....


    Mary Mary

    Anónimo

    14/2/09 16:48

  11. Mary: talvez! :)

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