Jornalismo de Investigação

Vivemos num país de aves raras, de aves de caça, de aves peçonhentas, de aves agoirentas, de aves necrófagas e ainda de aves de gaiola, a maioria. Basta mostrar-lhes o pão e piam logo. Um nojo!

Sou apolítico, identifico-me com princípios de vários ideais, da direita à esquerda, pois ninguém é dono da razão e eu muito menos. Esta declaração de princípios é importante para que se perceba que o que vou analisar não me compromete com ninguém para além de mim mesmo.

Hoje vou falar de dois jornalistas; Manuela Moura Guedes e Mário Crespo. A razão é óbvia, o caso Freeport. Não me interessa discutir a qualidade, ou falta dela, de Sócrates como primeiro-ministro. Hoje centro-me nos Média. Sei que a liberdade começa no direito de expressão o que obriga a informação fidedigna e disponível em tempo útil. A violação destes princípios básicos é fácil de desmontar.

Para se compreender o objecto de análise, deixo-vos um texto de Mário Crespo (Jornal de Notícias: Os bons e os maus) e uma entrevista de Moura Guedes no Jornal da Noite (TVI: 1ª parte; 2ª parte; 3ª parte; 4ª parte).

Manuela Moura Guedes e Mário Crespo, e digo-o com desassombro, juntos não dão um jornalista de investigação isento. Se a primeira é caceteira, o segundo é subserviente; quase se baba a cumprimentar os convidados, todos, da direita à esquerda; para ele são todos fantásticos e é sempre um privilégio poder entrevistá-los... será isto isenção?

Agora ele escreve um artigo de opinião onde afirma que Sócrates é um prossecutor da censura do antigo regime. Onde está o bom senso? Não será isto jornalismo sensacionalista encapotado em verbo florido?
Querem ver que ninguém pode processar um jornalista? Porquê? Será que eles estão acima da lei e podem assim manipular ou fabricar informação sem punição? Não vejo o drama em se ser processado, basta a inocência para resolver o problema; o drama é ter-se o labéu durante 5 anos sem que a justiça o resolva e o caso vir a lume antes de eleições. É preciso dizer mais?

Quanto à Manuela, ah! essa intelectual, diva da TV e de fino trato, o que dizer? Já devem ter visto os vídeos da entrevista feita a Marinho Pinto que descamba quando se fala do caso Freeport. Belo, delicioso o confronto entre quem fala com paixão sem perder a razão e um passarinho exaltado, pois não percebe para que lado lhe viraram a gaiola. O piar, esse, é o do costume.

O Marinho Pinto, que conheço mal, é o arauto na exposição das falhas da justiça, embora diga muitas vezes as coisas certas da forma errada. Nas palavras dele, que faço minhas, “o caso Freeport é uma cabala meramente política”, independentemente de se “gramar” ou não do Sócrates.

Depois disto, e não fosse o exagero do Marinho, diria que houve um erro de casting; de facto, ele não devia ser o Bastonário da Ordem de Advogados (classe onde os Bastonários são vilipendiados pelos seus pares, a começar pelo Júdice), mas sim Provedor da Justiça. Duvido que a maioria dos portugueses saiba para que serve tal cargo, o que foi feito e quanto custou. Pois é, gasta-se tempo e dinheiro para substituir um ex-governante do PSD por outro da mesma cor e que devia defender o cidadão das injustiças do Estado, mas que fará tanto como o seu antecessor...

Conclusão: Chegámos a um ponto onde é mais importante vender informação do que vender conhecimento. A informação descontextualizada não passa de especulação e o português básico “papa” o que lhe dão, literalmente! Porquê? Porque estas notícias têm audiência, leia-se, vendem; i.e. há quem as compre...



Para desenjoar do meu texto, música para se dançar sem pensar muito!


P.S. Para que não se pense que sou rosa ou de outra cor qualquer, pergunto, para quando a destituição do incompetente Governador do Banco de Portugal?

Nota: um blogue é para mim uma porta para debater ideias, transmitir sensações, partilhar conhecimento; i.e. dar um pouco de nós. Confesso que não tenho escrito muito sobre a Sociedade, mas devo, pois não me demito de partilhar o que penso. Fico desencantado com tantos comentários aos meus textos ficcionados e quase nenhuns aos de análise social. Será que os meus comentadores são poetas, andam na vida por andar ou têm medo do contraditório? People, este blogue continua se houver quem pense comigo, caso contrário vou pensar para o WC... :D

6 comentários :: Jornalismo de Investigação

  1. Sabes, teu blog é como uma bela janela que me remete à Europa. Ainda que os assuntos sejam espinhosos! :D
    BEijos

  2. Teia: hahahaha! Espinhosos? Lê mais do que escrevo, verás novelas românticas! :D
    Agradeço-te a ideia da janela sobre a Europa; de facto (e não fato pois prefiro o "casual day" :), tenho de começar a escrever mais sobre o Reino Unido e Espanha, países onde estou amiúde.
    Já conheces Portugal ou outro país Europeu?
    Beijos

  3. Não sou religiosa, não sou fanática por nenhum desporto, não tenho vícios, bebo agua ás refeições, não tenho calos nem joanetes, não sou magra nem sou gorda, não sou vegetariana, não sou escrava de algum “tipo” de moda, nem tenho pachorra para me auto flagelar seja pelo que for, e podia continuar a minha saga, mas melhor ficar por aqui, sou apolítica... daquelas pessoas anormais de tão normais serem.

    Essencialmente, dou importância ao bom senso, dou valor a uma ideia inteligente e acredito na máxima que é a falar que nos entendemos, depois a qualidade de comunicação vai evoluindo consoante o avanço na educação de um povo... e qd temos um povo civilizado temos um politico á altura, se não... e eu continuava o meu raciocínio mas sei que o podes continuar por mim...


    Quando entro num táxi e ele desata a acelerar que nem um doido pondo-me a vida em risco (cena q se repete com todos os táxis em Lisboa), quando no avião alguém não se importa que o seu chulé insuportável poderá ser motivo de agonia de muitos, quando no restaurante enquanto como, tenho ao meu lado durante meia hora um homem a palitar os dentes, quando no comboio a jovenzinha de pérolas metida a tia e a futura Sra. Dra. advogada raio que a parta, se acha uma estrela de cinema pq usa finalmente saltos, gritando durante 3 horas o que andou a fazer nos últimos dias em Coimbra, quando ouço um grupo de adolescentes alunas de um dos melhores colégios de Lisboa, a tratarem-se por porcas e outras coisitas mais umas ás outras... estamos com graves problemas de educação básica, eu não falo de licenciaturas e mestrados e demais conhecimentos ditos “superiores”.

    Este episodio em especifico, tem sem duvida um forte caris politico, tb passo á frente o tema já batido... foco-me apenas na falta “gritante” de qualidade de informação, na falta de nível e consciência cívica existente nestes meios, que me deixa sempre perplexa... mas que na realidade é um espelho da nossa sociedade.

    A senhora M.M.G. não está sozinha, alguém a “arrumou” lá, alguém preferiu um rosto completamente adulterado, uma personagem com visíveis problemas de personalidade, educação e falta de preparação profissional, a outra pessoa mais capaz p tal posição (eu sei que existem muitas!)...

    Algum pseudo inteligente, colocou uma mulher daquele nível na televisão a entrevistar pessoas, pessoas estas, que mesmo que tenham todas as culpas e mais algumas no cartório, ganham perante uma cena lastimável como a que presenciamos.

    Conclusão, vou continuar a não ligar a televisão para ver telejornais, vou continuar a escolher mto bem os jornais que compro, vou continuar a passear na Internet para ler as noticias, de cá e de lá e do resto do mundo, pq felizmente já posso escolher o que quero ver, ler e ouvir!

    Agora, vou voltar ao bem bom das minhas férias, alias, eu nem sei como escrevi tantoooo... acho que o WC agradece!

    :)

  4. Aprendiz,

    Falando por mim. Não utilizo o meu blogue para falar do "estado" do mundo, da mesma forma que cada vez mais me desligo de noticias e de jornais. Fico doente com o que ouço e leio e sinceramente evito ter conhecimento profundo do que quer que seja, porque sou capaz de ficar de olho aberto, sem dormir, face às barbaridades que por ai se fazem/fizeram e infelizmente farão. É uma pose um pouco de avestruz, enterrando a cabeça na areia, mas como pode ser suportavel para alguém minimamente são de espirito ocupar o seu tempo e inteligência a ouvir falar de Freeport, BPN e outros que tais?
    Eu desisti. E ainda que faça questão de ir votar, cada vez me parece tudo mais ridiculo e destituido de qualquer rigor ou etica. E também por causa disso não comento temas sociais. Prefiro assobiar para o lado e deixar andar. Sendo que esta atitude minha não me satisfaz, mas já não suporto tanta sandice junta.

  5. A maioria dos Jornalistas estão a merce da vontade do dono da emissora ou jornal onde trabalham, sem poderem praticar o verdadeiro jornalismo. Tudo que aprendemos na universidade nem sempre é levado pras redações. Sou daquelas pessoas sonhadoras, vejo no meu curso de jornalismo uma chance de mudar alguma coisa no mundo pra melhor. É preciso ter coragem, mas antes de tudo ter ética, temos até uma disciplina que trata só de ética no jornalismo, acho que muitos faltam a essa aula...

  6. 02: Hahahahahahaahahahahahaahahahahaahahahahaaha! Sabes, o que me cativa na tua escrita é de facto o teu humor. Tu deves ser uma força da natureza, daquelas em que o pôr-do-sol não termina a conversa, aposto! :)
    Pena estares em Moçambique, pois serias bem-vinda a tertúlias em Lisboa; daquelas em frente ao rio, a comer uns camarões ou ameijoas à Bulhão Pato acompanhadas por um belo branco fresco e pelas minhas gargalhadas francas!
    O meu WC ficou para obras depois disto! Agora só na natureza! :D
    Não desapareças! :)
    Beijos

    Kika: percebo-te bem! Mas acho que devemos lutar contra a sandice; podemos não conseguir terminar com a corrupção, mas basta mudar um pouco esta vergonha para que tudo melhore. Eu acredito nisso, a humanidade depende disso.
    Beijos

    Annie: os Média são fazedores de verdades... manipuladores globais! Eu próprio tenho bebido desse veneno; nalgumas (poucas) entrevistas que dei associadas à minha vida profissional tive sempre distorção do que disse, sempre, nalguns casos de forma gritante pois os senhores jornalistas jamais se dignam a enviar os artigos para revisão. Enfim, alguns nem português sabem...
    Para além da ética, algo que devia ser dado a partir da primária (pois são aí que são firmados os valores e princípios de cada um), devemos auditar com qualidade e de forma transparente o que se faz. Faltam provedores à séria!
    Beijos

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