Faces do tempo

Apeteceu-me, ó se me apeteceu; tirava a roupa, deixava de olhar e numa corrida louca saltaria para a ribeira! Consigo imaginar-me a flutuar entre o momento em que me lanço e aquele em que a água me acolhe, fria, esverdeada nos reflexos dos pinheiros que a emparedam numa formatura impecável, quase militar, deixando o xisto mostrar-se em pequenos socalcos aqui e ali, para que não se esqueça que nem a pedra resiste ao desgaste, ao encontro da natureza com o seu destino. Olhei a ribeira mais uma vez antes de regressar ao carro. Recordei a face do que fui, o rosto sem mácula próprio da idade, o olhar decidido e a vontade de sonhar que nunca perdi. Eu não teria mais de 10 anos, nada sabia; menos ainda, sabia que o que sabia era tudo o que precisava para ser feliz ali, naquele momento, naquele salto; eu e a ribeira, uma criança e a vida!




Ribeira de férias,
ribeira de sonhos...

avós, queijos, pão,
geleia, frio e carvão;
cabrito, tigelada, azeite,
vinho, festa e enfeite;

Ribeira d'outrora,
sonhos d'agora...

10 comentários :: Faces do tempo

  1. O ideal não é o "era" mas que nunca deixes de ser :)

    Abraço-te

  2. Vais sempre a tempo de esquecer que és crescido e de dar esse belo mergulho:)

  3. A maior parte das pessoas costuma sentir que era mais feliz enquanto criança. Eu sinto precisamente o contrário, que aprendi a ser feliz e a desfrutar desses momentos com os anos.Seja como for, parece-me que o importante nisto tudo é continuar a ter momentos que nos permitam que mesmo aos 20, aos 30, aos 40 e mais, continuemos a ser apenas uma criança a querer dar um mergulho! beijos

  4. emocionei...

  5. Nota à navegação: muitos dos meus textos são ficções, se virem no final do "post" verão as categorias em que classifico cada um. Este post é uma ficção, mas obrigado pela solidariedade! :D

    Daniel: claro que sim! Contudo, eu reportei-me a um momento no tempo em que tudo é simples, sobretudo a compreensão dos outros. :)
    Quanto à felicidade, ela tem os seus momentos, como deve ter nas pessoas normais! ;)
    Abraço amigo

    Lídia: se há coisa que me esqueço é que sou adulto. Aliás, deve ser por isso que as minhas namoradas têm sido sempre mais novas do que eu... juro que não sou pedófilo... embora algumas pareçam crianças! Hahahaha!
    Enfim, sempre disse que detestava pessoas cinzentas, e essas são aquelas que perdem a virtude de sonhar. Detesto pessoas, confesso, que cedem ao comodismo, a ficarem ou procurarem uma situação que as deixe em segurança, conformadas com o que têm e não com o que querem. Claro que não falo de ambição desmesurada, mas de sonhar e lutar por isso. O mínimo, é isso que devemos esperar de nós.
    Quanto ao mergulho; quantas vezes? :D
    Não te esqueças; eu "sou um louco" que não toma a medicação... achas que hesitava a dar um mergulho? ;)
    Beijos

    Lisa: achas? Eu acho que muitas crianças têm infâncias para esquecer, mas acredito que as pessoas achem o contrário ao reconhecerem que na meninice não se têm responsabilidades. As crianças são bipolares, passam por várias emoções num dia... riem, choram, estão tristes ou felizes em função do momento, do imediato. Não têm ainda distância crítica nem capacidade de discernimento social.
    Mas a liberdade do eu, a completa, vem com a maturidade. Aí a felicidade é geralmente livre de equívocos; e se os reconhecermos mais tarde então encaramos o momento como feliz na mesma, só nosso, pois a ignorância do logro é vista à distância sem importância nenhuma.
    Quanto ao sonhar, como disse antes à Lídia, esse é o segredo! ;)
    Nunca deixemos de ser crianças, aos 40... ou menos! ;)
    Beijos

    iilógico: obrigado; agradeço pelo o que o texto transmite, uma foto imaginada de um passado feliz, num presente consciente e, felizmente, saudável! :)

  6. Oh não tinha reparado que era ficção!
    Hehe! Eu cá prefiro pessoas mais velhas:p
    Pois eu vivo com muita dificuldade em me relacionar com determinadas pessoas porque vivem agarradas a preconceitos. Eu sou espontânea e gosto de arriscar, mas há poucas pessoas assim... ou pelo menos não se cruzam comigo!
    Ahhh ainda bem que és um "louco":)
    Beijinho

  7. É ficção, mas a mim faz-me lembrar os tempos de criança quando passava as tardes de verão no rio da minha aldeia.
    Abraços

  8. Algumas crianças têm infâncias para esquecer, mas felizmente muitas até tiveram infâncias felizes. Raramente falo na sorte porque só acredito neste conceito quando se trata de situações muito específicas, mas neste caso é também uma questão de sorte. Há crianças que tiveram a sorte de não passar por determinadas coisas e assim torna-se muito mais fácil ficar com memórias felizes da infância. Mas mesmo os que não tiveram..nunca é tarde para se sentir como uma criança a querer dar um mergulho. O que interessa não é a idade, mas sim não perder esse espírito. beijos

  9. obrigada pela visita e pela "provocação":)
    gostei!;)

    beijos

    Anónimo

    27/4/09 12:04

  10. Lídia: preconceitos... fazem-me lembrar o nome de bolachas para crianças que se mastigam até que a dentição se firme! :D
    Yes, I'm mad... madeira ou qualquer outro material moldável. ;) Sim, só por isso sou aprendiz, um ignorante sem forma.
    Quanto a espontaneidade, bem... essa é uma idade perigosa! ;)
    Beijinhos

    Valentim: é ficção, mas nem tudo! As memórias são, a indecisão de saltar não seria certamente a minha. Tens de contar essas memórias.
    Abraços

    Lisa: hoje... apetece-me. Lisa, desenhas-me uma ovelha, mas que não seja velha, grande, feia... só uma ovelha? Ah! E eu desenho uma jibóia a comer um elefante! Depois, depois vamos fazer uma estória, já sei, 365 dias, uma estória por dia em que um principezinho andará perdido de planeta em planeta à procura do que não precisa, mera curiosidade. Planeta amarelo, de cristal, da relva, dos castelos, dos cabelos, das abelhas... os que quiseres, afinal temos 365 dias! Depois, bem depois aposto que teremos estórias para entreter qualquer criança durante um eterno ano. Já viste, é fácil ser-se criança. Será que ainda a sou? ;)
    Soul and spirit!
    Beijos

    Hannah: ainda bem que gostaste da minha frontalidade. :) Ainda bem que não me tomaste por moralista, mas o tema é-me caro, como outros, aliás. Vou passar lá mais vezes, faz o mesmo por aqui.
    Beijos

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