Cruzadas

Dizem que está a ocorrer uma guerra mundial em África. Pelo número de mortos nas guerras civis e genocídios da última década podemos concordar que a semelhança não é descabida.
Hoje interessa-me falar somente do Ruanda e do Burundi. Se abrirem um mapa de África dificilmente os encontrarão. Praticamente com a mesma área, são tão pequenos que juntos mal ultrapassam a metade de Portugal. Pouco mais de 50.000 km2, uma ninharia. Colados, temos o Ruanda a norte e o Burundi a sul. Ocupados pelos alemães até à primeira guerra mundial, foram substituídos pelos Belgas até à sua independência.
Mas porque me interessam em particular estes países, perguntar-se-á o leitor já maçado e de olhar perdido? Pois bem, porque albergam duas tribos rivais, Hutus e Tutsis, que se têm dizimado ao gosto do tempo e com a benevolência da comunidade internacional. Nos anos 70 foram assassinados cerca de 250.000 hutus no Burundi, nos anos 90 a cena repetiu-se para quase 800.000 tutsis no Ruanda.
Vizinha destes países encontramos a República Democrática do Congo, que também já foi chamada de Congo Belga ou Zaire (é neste país que se encontra o enclave de Cabinda, território Angolano com vontade de autonomia e com ouro negro bastante para ser cobiçado por vários). Também aqui se refugiaram e guerrearam as duas tribos, país que atravessa agora o drama da cólera, como outros países africanos.
Contudo, de tão diferentes estas tribos têm um ponto em comum, foram evangelizadas pelos cristãos católicos e a maioria mantém essa crença. E é este ponto que me interessa realçar.
Na mensagem de Natal o Papa Bento XVI começa por se preocupar com o conflito israelo-palestino, i.e. um problema entre judeus e muçulmanos. Depois, só depois aborda África. Na verdade, este e outros Papas pouco fizeram para que os seus fiéis não se aniquilassem em África. Porquê, digam-mo vocês porque o meu discernimento não me permite expor o que a minha inteligência conjura?!



ONU, Igreja, nós, todos... falhámos!

4 comentários :: Cruzadas

  1. Continuamos com a mesma mentalidade miserável ..."são assuntos de pretos"... Enfim, é o triste mundo em que vivemos. No Congo, a tragédia ainda está por medir, mas no final, (não) seremos surpreendidos pela contabilização de mais uns milhões.

  2. Nuno: penso que o problema é mais profundo. Mesmo aqui ao lado, na ex-jugoslávia, quando sérvios (católicos) matavam croatas (muçulmanos) a Europa (nem o Papa...) nada fez. Foi preciso a intervenção de americanos empurrados, e bem, pelos ingleses para que tudo se resolvesse.
    Não sou muçulmano, religião pela qual nem tenho apreço pois estimula na maioria dos seus praticantes a violação dos mais elementares direitos do homem (a mulher é pouco mais do que um objecto...), mas confrage-me esta hipocrisia. Perseguir judeus e árabes, em particular os primeiros, de forma subliminar... só faltava à Europa dizer, "combateremos os judeus até ao último árabe!"
    Penso que no final, é o sublimar das diferenças étnicas e religiosas, é o utilizar a história para estimular as diferenças. Isto é um problema civilizacional. Eu tenho orgulho em ser português, mas tenho muito mais orgulho em ser homem. E sinto isso sempre que viajo!

    Abraço

  3. Aqui está um tema bem abordado. Não podemos esquecer o Zimbabwe, e o comércio de armas entre estes e uns gigantes da economia mundial, a questão do Saara Ocidental, os confrontos no território sul da Argélia, Somalia, Eritreia, Etiópia, os confrontos racistas na Africa do Sul, O Sudão entre outros.
    A África não está em paz!
    Mas parece-me também que não há vontade politica de se fazer mais, e estes genocídios vão continuar. Infelizmente!!!
    abraço

  4. Valentim: obrigado pelas palavras amigas. :) Subscrevo tudo o que dizes sobre África; tentarei abordar ao longo do tempo este e outros temas, que são muitos, ousadia de ignorante!

    Abraço

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